sexta-feira, 29 de maio de 2009

O DIA EM QUE O BAIANO QUASE MORREU......


Esse fato que vou contar aconteceu a uns 4 anos atrás mais ou menos. Essa é a história do Mestre Dionisio Naja, um baiano nascido no sertão, que comeu calango quando era criança, muita farinha com água, vendeu calcinha na feira e descobriu que só através do estudo seria alguém na vida. Ele saiu da Bahia, foi estudar engenharia em Minas Gerais e depois de formado veio para o Rio de Janeiro fazer mestrado em engenharia cartográfica. Quando ele chegou ao Rio veio trabalhar em uma grande empresa do setor elétrico, onde eu e o colega Fredinho o conhecemos. Dionisio não conhecia o mundo do surf e ficava espantado quando nós conversávamos sobre as ondas, os videos, as pranchas. Na hora do almoço era só papo de surf e ele ficava boiando. O cara pensava que nós éramos loucos, só se falava do tal do surf. Um dia ele comentou.."ainda vou aprender a surfar!!!!!!". Foi o que precisávamos, começamos a elaborar a logística, Fredinho arrumou uma prancha e um strep, agendamos um sábado de sol e fomos levar o garoto pra conhecer o tal do surf. No dia combiando nos falamos por telefone e eu, como cheguei mais cedo na praia, fiquei de escolher o pico. O dia era de sol, 0,5 metro com séries maiores (vulgo meio metrão), rodei o meio da barra todo e escolhi uma valinha do lado de um banco de areia. Pensei.."aqui da pra galera surfar na valinha e mestre naja fica no banco de areia pegando espuma". Fredinho chegou trazendo o mestre e, enquanto eles iam retirando as pranchas do carro e arrumando as coisas, eu fui pra dentro d`água, uma vez que a fissura era grande. Entrei pela vala e logo já tava lá fora, peguei umas três ou quatro ondas, não tava muito bom não mas dava pra brincar. Foi quando comecei a procurar Fredinho e o mestre mais para a beira. Procurei na areia e não achei, procurei no banco de areia e também não estavam lá, e olha que as pranchas eram amarelas e não tinha como não ver. Foi quando escutei um apito, era o salva vidas apitando deseperado para onde eu tava. No momento eu pensei "Será que tem tubarão aqui????? Será que fiz alguma merda???? Será que atropelei alguém e nem percebi???". Em 25 anos de surf eu nunca tinha escutado um salva vidas apitando. Pra mim era novidade. Foi quando olhei pro lado e vi o mestre agarrado na prancha, batendo o pé pra sair dali com cara de assustado. O doido se meteu na valinha e foi sugado pra fora. Não devia passar nem cabelo pelo seu fioto naquele momento. As ondas entravam, ele tomava as espumas na cabeça e era arrastado cada vez mais pra fora. Dava pra ver o medo na cara dele, tipo quando você vê nos desenhos a morte te olhando com um capuz segurando uma foice. Ele deve ter pensado..."esses filhos da puta me trouxeram pra cá e agora eu vou morrer, tão novo e com um futuro tão brilhante pela frente." Fredinho quando percebeu a situação foi buscá-lo. Remou com força. Alcançou o baiano. Colocou ele na prancha, segurou pela rabeta e começou a nadar com força pra sair da vala. Foi quando a cara de espanto do mestre começou a mudar, ele soltou uma leve risadinha, percebendo que a situação já estava controlada. Eu confesso que fiquei sem reação, não sei ria ou se chorava. Quando cheguei perto deles Fredinho já havia tirado o mestre da vala e o puxava para o banco de areia. Ao chegar na areia ele ficou olhando para o chão, cheio de areia no cabelo, aliviado e assustado com o ocorrido. Ele que havia aprendido a nadar nos açudes do sertão baiano (se é que ele sabia nadar mesmo né) havia encarado um mar de 0,5 metrão no meio da Barra, não é pouca merda não, é a mesma coisa que eu que surfei a vida toda essas merrecas daqui encarar um teahuppo com 12 pés. Nunca mais o mestre quis saber de surf, ficou traumatizado. Algum tempo depois ele falou que ia tentar aprender de novo, que ia comprar uma prancha e tudo, mas isso nunca foi concretizado. A carreira de surfista dele acabou na primeira caída. Hoje em dia o mestre voltou pra Bahia e virou professor universitário, mas ele sabe que mora no coração da galera.

Minha mãe já dizia..."CUIDADO!!!! O MAR NÃO TEM CABELO!!!!!!"

Aloha GD

6 comentários:

Fred Schmidt disse...

Excelente relato GD! Você conseguiu transcrever, sem fantasias, todos os momentos vividos pelo humilde baiano em sua primeira tentativa de surf. Me recordo de sua dificuldade para manter o equilibrio na prancha, mesmo deitado. Ele não conseguia remar naquela pranchinha, este foi o maior problema. Éhhh! acho que vacilei com ele por não ter o colocado para surfar com um funboard, que tem maior flutuação e facilita na remada. Mas realmente o baiano tomou um grande susto ao ser dragado pela valinha... falei para ele agarrar na rabeta da minha prancha e consegui tirá-lo da vala na ramada! Os salva-vidas apitando foi o auge da estória! rs!! Mas tenho certeza que Dionisio não ficou com raiva de mim por conta do ocorrido... coloquei ele na roubada sem querer, mas salvei sua vida!

O Mestre Naja é um cara muito persistente e torço para que ele não desista de aprender a surfar! Quem sabe um dia não o encontramos pelas belas praias baianas para uma nova tentativa?

Aloha
Fred Schmidt
ASR - Associação de Surf da RaSSa

Unknown disse...

Putz! Foi isso mesmo que aconteceu...o que era pra ser um dia de playsson, foi o dia mais terrível da minha vida..
Eu sempre nadei no rio da minha cidade, no interior da Bahia..mas nadar no mar é muito mais complicado...tentei sair de todas as formas, mas fui puxado mar adentro...sensação horrível!
Mas valeu a experiência...a amizade ficou abalada por um tempo, pois o GD me convenceu que foi de propósito...mas logo voltamos a conversar...e tudo voltou ao normal..rsrs
Valeu, jovens! Grande abraço!

DSC disse...

valeu mestre!! abraço!!!

GD

FUN disse...

Carambolas.... minha mãe dizia a mesma coisa.....
No próximo surf chega lá tmb....
abraço
fun

Tiago disse...

Amigo, nesse dia eu cheguei na praia tarde e não vi toda a ação. Só deu tempo de ver a cara branca do Naja na areia, de quem viu a morte olho no olho. Prá completar o dia zicado perdi a chave do carro na areia e morri numa grana pra voltar pra casa!

Gimis disse...

HUAeihUAIE...
to rindo igual um babaca aqui.
belíssimo relato.
Queria estar na praia esse dia pra registrar esse momento.
Eu já sabia do dia de Playsson.
Só esqueceram de me contar essa parte.
Tá valendo...
Valeu biancho.